Paulão, das Velhas Virgens
Paulão, das Velhas Virgens (Divulgação)
Reportagem Especial

Nada de caricatura: Paulão, das Velhas Virgens, diz que vai parar

O embrião já está formado. E o que vier depois na carreira de Paulo de Carvalho, o Paulão das Velhas Virgens, deve vir baseado em experimentação e tempo para pensar. Enquanto isso, o veterano vai se despedindo da banda que ajudou a criar e a tornar no maior exemplo de sucesso do rock independente nacional.

Comemorando 30 anos de vida, as Velhas Virgens estão na estrada com a turnê ‘Garçons do Inferno’, baseada no álbum de mesmo nome lançado em 2015 com 20 músicas escolhidas pelos fãs. Foi o 15º disco do grupo, mas a primeira coletânea. ‘Vou seguir com a turnê enquanto houver show, enquanto houver demanda’, explica Paulão. Depois, o roqueiro irá dar um tempo.

Paulão, porém, já tem um ponto de partida para seu futuro musical.

“Quero experimentar, criar uma estética, meio parecido com o punk, umas passagens bem simples e pesadas.”

Paulão, das Velhas Virgens

O músico, inclusive, vê poucas grandes referências na atual safra mais conhecida do rock.

‘O que acontece com o rock no mundo todo hoje é um rock sem guitarra, pouco rock. É tudo meio dançante demais. Falta rock’n’roll. Não tem nada que me inspire ou que eu gostaria de fazer um som mais parecido com isso’, explica, citando as Velhas Virgens e o Matanza como exemplos de resistência rock’n’roll.

Para o futuro, Paulão ainda deixa a mente aberta. Mas como uma certeza. ‘A música não vai sair de mim nunca’, conta. Depois, esse intervalo de shows e gravações deverá ser aproveitado para estudos e testes. ‘Sempre compus em cima das letras. Agora quero entrar em estúdio e fazer uns temas no baixo, fazer as melodias e depois ter as letras’, explica.

Um antigo companheiro, inclusive, deverá ser reativado. ‘Queria estudar saxofone. Eu tive um, mas quebrou e eu parei. Agora queria voltar a estudar sax. Talvez esse hiato possa me permitir isso. Mexer na gaita, no sax e compor e achar riffs’, completa.

CAMINHO OPOSTO
Enquanto pensa e projeta seu futuro, Paulão também avalia o longo caminho percorrido com as Velhas Virgens. E o medo de ver as Velhas realmente envelhecerem pesou na decisão de dar um tempo. ‘Não gostaria de transformar as Velhas Virgens em um som deprê. No último disco já parecia um cara meio bêbado, meio sem esperança. Não sei se gostaria que as Velhas Virgens perdessem essa coisa ramoniana e sempre jovem’, diz.

‘Às vezes precisa de um passo para trás. A gente começou isso 1986. Eu tinha 20. E é engraçado você estar no show e ver uma molecada. Fico meio preocupado de ficar meio caricato’, completa.

FUTURO, SAÚDE E FAMÍLIA
Paulão está a 30 anos de cumprir uma de suas metas. ‘Um dos objetivos de minha vida é chegar a uns 80 anos bebendo muita cerveja’, declara. Mas, além de curtir sua bebida favorita, o roqueiro, agora com 51 anos de idade, está há cinco curtindo outro tipo de ‘preocupação’: o futuro de sua filha.

‘Do mesmo jeito que meu pai empurrou minha vida, eu preciso empurrar a dela’, diz, referindo-se à criação e educação de sua herdeira. ‘Se eu soubesse que iria conhecer a pessoa mais importante de minha vida com 45 anos, não sei se faria tudo assim. Acho que sim’, deixa a dúvida no ar.

Mas mesmo que a paternidade e a idade tenham provocado algum efeito na forma de encarar o futuro de Paulão, o fundador das Velhas Virgens não abre mão da diversão e rock’n’roll. ‘Você não precisa ficar um bunda mole a pretexto de ter saúde. Eu não quero viver 100 anos com muita saúde e aborrecido. Não adianta guardar saúde’.

Outra paixão de Paulão, o futebol fica apenas na torcida pelo Corinthians, porque jogar não está mais nos planos. ‘Futebol não vai dar porque já fraturei o pé e tenho três hérnias, uma coisa hereditária. Mas vamos tomar cerveja e comer churrasco. Vamos viver a vida bem.’

WORKCHOPP E CERVEJAS
O que virá no futuro ainda está em uma nuvem de ideias. O passado recente esteve ‘meio deprê’. Mas o presente ainda tem sido de diversão com a turnê de ‘Garçons do Inferno’ e os ‘Workchopps’. ‘Basicamente o que tenho feito é me divertir com esses shows’, explica Paulão, um dos fundadores das Velhas Virgens.

‘Garçons do Inferno’ foi a primeira coletânea oficial da banda. ‘Não me agrada muito’, revela Paulão. Mas o roqueiro tem curtido o resultado. ‘A primeira (turnê) só com música antiga. A proposta foi essa. Servir para os fãs o que eles querem. É uma coisa legal também. Tem sido divertido’, diz.

Já a proposta dos Workchopps é diferente. ‘Show de rock é para tocar. Mas no Work é para bater papo, contar causos’, explica Paulão, que vê ainda outras vantagens. ‘Também permite tocar em lugares menores e uma aproximação com o público. Tocamos o mesmo repertório dos shows, mas com baixo, gaita e violão. E milhares de histórias que vamos lembrando. E vamos dizendo para as pessoas que dá para viver 30 anos com o rock’n’roll’.

Os Workchopps, inclusive, estão evoluindo para uma nova empreitada. ‘Já tocamos em festa de empresa e estamos construindo um roteiro menos putanheiro para vender um lado de empreendedorismo. Dá para mostrar que você tem uma banda que é só bebedeira e putaria, mas muito organizados. Mostramos um lado empresarial também’, revela.

E, além do rock’n’roll, Paulão ainda ajuda a tocar o bar e a cerveja da banda. ‘Temos o bar. Geralmente estou lá às quinta-feiras. E as cervejas. Também tem isso que preciso dar atenção. Não estou conseguindo parar e olhar. Agora não está dando’, termina.

Texto originalmente publicado na primeira fase do Bem Rock, em 2016

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