Logo da Midsummer Madness Records
Logo da Midsummer Madness Records (Reprodução)
Reportagem Especial

Midsummer vai do fanzine à curadoria do rock independente

Em 1989 ‘nasceu’ a internet. E também um ‘selo de qualidade’ para um ‘mundão’ de possibilidades, músicas e bandas que se abria com a World Wide Web. Foi o início do Midsummer Madness. E o que era um fanzine virou um dos nomes mais importantes do rock, e da música, independente no Brasil.

Quase 30 anos depois, a evolução de ambos, internet e selo, continua intimamente ligada. Aquele mundão novo e o acesso a tecnologias antes restritas a grandes gravadoras e estúdios, criaram a sensação de que as novas bandas teriam, enfim, seu espaço. Totalmente independentes. Não foi bem assim. ‘É tão rarefeito ter muito quanto ter pouco’, define Rodrigo Lariú, o criador do Midsummer Madness.

Em seu início, o selo começou a gravar fitas de bandas. Quase no fim da década de 90 passou também a lançar novos grupos. E, mais recentemente, viu ganhar força um outro lado, o da curadoria. ‘É uma coisa recente. Não que nunca tivesse sido. Sempre foi uma curadoria. Mas a percepção é mais recente’, explica Lariú.

Rodrigo avalia as mudanças do início dos lançamentos para os tempos atuais. ‘Naquele tempo era se a gente não lançar, ninguém mais vai lançar’, relembra.

“Hoje não tem mais disso. A banda se vira sozinha se ela quiser. Mas, nesse mundão, se você não tem alguém para dizer algo, fica difícil”

Rodrigo Lariú

Neste sentido que Rodrigo Lariú vê a mudança no papel do Midsummer. ‘A gente virou cada vez mais uma curadoria. Contatamos as bandas e começamos a trabalhar juntos num esquema de parceria, embaixo do guarda-chuva de um selo’, explica.

Estar sob esse guarda-chuva ajuda banda e gravadora, segundo Lariú, a encontrar uma identificação com o público. ‘Muitas pessoas já conhecem o estilo da gravadora. Ou o cara conhece a banda e não o selo. Mas têm uma identificação com o estilo de som. É o que a gente pretende’, explica.

Apesar de todas as mudanças e novidades, o fundador do Midsummer vê semelhanças entre o lançamento de bandas atuais com aqueles do início do selo. Para Laríu, as playlists atuais, bombando em plataformas digitais, são uma nova forma de empacotar os singles. ‘É a história repetida’, diz.

‘O single era seu cartão de visitas. A porta de entrada para o resto. E as playlists têm funcionado muito bem. É mais uma maneira de colocar em um pacote e apresentar para as pessoas. Talvez a pessoa não se comova com um single e não interaja tanto se não perceber que está dentro de um selo ou de um tipo de som. Quando a pessoa parte para escutar um álbum é porque antes ela curtiu na playlist’, avalia.

MUITAS MÚSICAS
Do que uma banda precisa? Músicas, muitas. E quando lançar um álbum? ‘Sempre depois’. E ‘com calma’. Os conselhos de Rodrigo Lariú para as novas bandas têm o peso de quem está há quase 30 anos acompanhando o universo da música independente no Brasil.

‘Apesar de o álbum não ser a primeira coisa que a banda precisa fazer, porque o cartão de visitas é outro, a banda precisa ter músicas. Muitas. Não adianta ter só quatro e achar que vai fazer alguma coisa com isso’, afirma o diretor do Midsummer Madness.

Nada impede, porém, que os músicos já se lancem no mercado, mesmo sem o álbum completo. ‘Se você tem quatro músicas, uma delas é sensacional, tem um super clipe, uma super versão, então já é o suficiente para colocar um EP na rua’, continua. ‘Mas o álbum é sempre depois’, completa Lariú.

Para Rodrigo Lariú acredita que as bandas precisam aprender com suas músicas. ‘As bandas odeiam quando falo isso, mas muito dificilmente elas são o melhor que têm para oferecer naquele momento. É um processo de maturação, de aprendizado. As bandas precisam ter um pouco de calma’, avalia.

Uma parte desse aprendizado acontece nos shows. ‘Toda banda vai achar que as 10 músicas que ela tem são maravilhosas. Mas precisa pegar o resultado e ver como ficou ao vivo. O álbum vem sempre depois’, repete o conselho.

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