A banda Vocifer (Divulgação)
Reportagem Especial

Vocifer transforma mitos e lendas regionais em ótimo heavy metal

A Vocifer abriu um universo de lendas e mitos da região Norte do Brasil. E o registro dessa descoberta está todo no primeiro álbum da banda, Boiuna, de janeiro de 2020. A banda de Tocantins encerrou o ciclo de lançamento do disco com o clipe War of Vendetta, que saiu em abril deste ano.

Formada em 2014 pelo vocalista João Noleto e o baixista Lucas Lago, a Vocifer passou por algumas mudanças em sua formação até chegar o quinteto atual, com Raphael Carvalho na bateria e as guitarras de Pedro Scheid e Gustavo Oliveira.

Lucas conta que a ideia original era fazer uma música sobre Boiúna, uma lenda de uma imensa cobra capaz de virar barcos, ora assumindo a forma de embarcações ou também de uma mulher. ‘A gente sempre quis falar sobre coisas do nosso estado, do que nós vivemos. Está cheio de metalzinho falando de dragão, e não é nossa realidade’, diz o músico.

‘A grande surpresa é quando a gente parou para estudar sobre a Boiúna para fazer o álbum a gente percebeu que nem nós mesmos conhecíamos sobre nossa região. E aí a gente caiu de cabeça para poder produzir o álbum’, continua Lucas.

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João completa: ‘A gente viu a grandiosidade que é nossa cultura. Aí nós nos deparamos com um verdadeiro universo e resolvemos explorar nesse primeiro disco, contextualizando, contando a origem das coisas sob uma ótica das lendas, dos mitos, em especial da cultura indígena brasileira’.

O vocalista afirma que assim que perceberam que precisariam de mais músicas para abordar toda a temática, eles mergulharam de cabeça em pesquisas. ‘Foi literalmente uma pesquisa acadêmica mesmo. A gente buscou informações na academia mesmo. E tem sido assim desde então’, explica.

A banda ainda encarou um outro desafio. Falar sobre lendas e mitos indígenas em inglês. ‘Tem termos que são estranhos até para a língua portuguesa. Tanto é que você não encontra no disco, em nenhuma letra, a palavra Boiúna propriamente dita. Ela é o nome do álbum. Então a gente acabou criando personagens, fazendo algumas licenças. A gente chamou Boiúna de senhor do Rio’, exemplifica.

‘Por conta da história em si, a gente acabou criando personagem e de uma forma que todo o mundo literalmente consiga entender o que a gente quis dizer, qual a moral da história, quem são os personagens, o que eles estão fazendo e o que eles representam’, continua.

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MUSICALMENTE
Além de compor as letras para que sejam compreendidas mesmo para quem não tem conhecimento sobre as lendas brasileiras, a Vocifer também se preocupou em incluir elementos regionais, mas sem descaracterizar o heavy metal. ‘Nós mantivemos uma sonoridade que o europeu pudesse ouvir e falar isso é uma música que – eu gosto e que eu ouço’, explica João.

Pedro Scheid complementa. ‘Existe uma ligação da parte instrumental com a parte das letras. E por se tratar de letras com essa temática folclórica, indígena, regional, a gente também buscou incorporar esses elementos de música brasileira, de música regional, mas não também abusando demais’, diz o guitarrista.

‘Um elemento sutil justamente para (deixar) aquela pulga atrás da orelha. Ele pegou um elemento de um outro ritmo e transformou num heavy metal. Você não vê que é um samba de primeira, um baião de primeira, um carimbó’, continua Pedro.

Lucas conta que também incluiu uma pegada mais regional nas músicas, mas que nem os companheiros de banda haviam percebido. ‘No Boiuna tem muita coisa que eu pegava do meu dia a dia e colocava sem as pessoas perceberem. Os meninos mesmo não tinham percebido que eu coloquei muitas referências de brega’, revela.

NOVO ÁLBUM
Enquanto torce para ainda poder tocar as músicas do Boiuna ao vivo, a Vocifer está focada agora na produção de um novo álbum. ‘Ele (clipe de War of Vendetta) foi o encerramento. Como a gente está muito corrido, os próximos trabalhos são todos do novo disco. O Boiuna a gente considera encerrado esse ciclo’, conta Lucas.

Para o novo álbum, a banda pretende ainda trabalhar com temáticas regionais. ‘Ele também vai trabalhar folclores, lendas. A gente estava muito em dúvida. A gente estava meio na linha de música de protesto, intimista, mas não era muito definida’, explica Pedro, revelando ainda que um texto os ajudou a tomar essa decisão.

‘Os meninos (da Hell Yeah, assessoria da imprensa da banda) fizeram uma resenha sobre o Boiuna e foi nessa resenha que a gente abriu a cabeça e viu que era uma temática a ser explorada ainda. Foi uma coisa que nos ajudou a nortear o disco 2’, explica.

Segundo o guitarrista, este novo trabalho deverá ser mais maduro do que o álbum de estreia. ‘’É um disco temático e muito mais trabalhado do que o Boiuna em todos os sentidos. O Boiuna foi um choque quando a gente gravou, saindo de Tocantins e indo para São Paulo. Foi um choque positivo. A gente evoluiu num período curto de tempo e isso foi fundamental para a gente definir as coisas para o disco 2’, diz.

Último a entrar para a banda, Gustavo Oliveira está mais ativo também nas composições. ‘O Gustavo tem um know-how de música brasileira muito grande’, enaltece João. E o próprio guitarrista está aproveitando este primeiro trabalho de composição para crescer e dar seu toque ao álbum, sem descaracterizar a história de Boiuna.

‘Essa é minha primeira experiência que estou tendo de trabalhar num álbum propriamente dito. O que eu espero para esse álbum é desenvolver minha própria experiência, mas conseguir implementar uma parcela de minha identidade’, afirma o guitarrista.

Enquanto trabalha na composição, a Vocifer planeja seus próximos lançamentos. ‘Nós vamos gravar o disco e parte dos lançamentos vai ocorrer com singles. Para esse disco a gente vai lançar, não vou prometer, mas até o final do ano a ideia é lançar um primeiro single deste novo álbum. Teremos outros singles, mas o lançamento do disco completo será no ano que vem’, finaliza João.

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