Os integrantes do Black Pantera (Reprodução Facebook)
Os integrantes do Black Pantera (Reprodução Facebook)
Reportagem Especial

Black Pantera terá lançamentos com responsabilidade aumentada

O histórico não favorecia. Depois houve um início baseado no feeling. Mas, seis anos depois, a banda Black Pantera já carrega nos ombros a responsabilidade pela qualidade de seus dois primeiros álbuns, além de singles e participação marcante em diversos festivais, inclusive no exterior.

O último trabalho do trio formado pelos irmãos Charles Gama (guitarra e vocal) e Chaene da Gama (baixo e vocal), além de Rodrigo Augusto ‘Pancho’ (bateria) foi o single I Can’t Breath. A música, com um clipe que amplia o impacto de sua mensagem, surgiu da indignação pela morte de George Floyd, nos EUA, e tantas outras de pessoas pretas no Brasil. Antes, o grupo já havia lançado o álbum Project Black Pantera, de 2015, e Agressão, de 2018.

“O Black Pantera hoje, de 6 anos, está mais maduro. Pensa em tudo o que faz.”

Rodrigo Pancho

I Can’t Breath rendeu ótimas críticas em pouco tempo. E coloca mais peso para os novos trabalhos que a banda irá lançar. Como antecipa Rodrigo Pancho ao Bem Rock, primeiro virá uma trilogia de versões vindas de outros estilos, mas agora com a pegada do Black Pantera.

‘Vamos regravar A Carne, da Elza Soares (música de Seu Jorge, Marcelo Yuka e Ulisse Capelleti), Identidade, do Jorge Aragão, e Todo Camburão Tem um Pouco de Navio Negreiro, do Rappa. Todas têm uma pegada racial. Será tudo na nossa onda’, conta Rodrigo. A ideia é lançar tudo até a segunda quinzena de agosto. ‘A gente está na quarentena, mas não parados’, continua.

Além dessa trilogia, a banda também trabalha em seu terceiro álbum, que agora sairá pela Deck. ‘As músicas estão prontas. Vamos lançar com 13 faixas, todas em português, mais I Can’t Breath‘, revela. O músico apenas não sabe ainda quando será o lançamento, em função da pandemia de Covid-19 e a quarentena no Brasil.

‘A gente ia para o Rio em abril para gravar, mas infelizmente veio essa pandemia e remarcamos para julho. Também não deu certo, talvez a gente vá em agosto. Mas é complicado se você lança o disco e não tem como fazer turnê’, comenta Rodrigo.

CRESCEU A RESPONSABILIDADE
A assinatura com a Deck foi um reconhecimento pelo trabalho desse trio de Uberaba. Mas trouxe também mais responsabilidade para a banda. ‘Foi uma virada de chave. O Rafa Ramos (produtor da Deck) dá muita liberdade, mas temos outra responsabilidade que é se manter nela (Deck)’, diz Rodrigo.

Mas o principal é o trabalho para manter o mesmo nível que o grupo atingiu em seus primeiros seis anos. ‘A gente já sente uma responsabilidade maior pelo nome que o Black Pantera carrega e pelas letras’, avalia o baterista. E isso reflete-se na forma como o grupo trabalha.

‘Pensamos no repertório, na forma. Este terceiro álbum a gente já escreveu, já compôs e está produzido. Está muito mais pensado na forma dele’, antecipa.

DO FEELING À MATURIDADE
Rodrigo Pancho vê o Black Pantera num momento de maturidade. Mas, para chegar até aqui, a banda precisou superar uma desconfiança bem no início do grupo. ‘O Charles me convidou para gravar, mas eu não dei muita bola, porque ele só fazia projeto zoado e ninguém queria gravar com ele’, diverte-se o baterista.

‘Hoje sou muito fã dele, mas ele gostava de Lenny Kravitz, Michael Jackson. Ele curtia essas paradas. E a gente não dava muita moral porque era ruim. Nem o irmão queria gravar com ele’, continua. Mas aí aconteceu a primeira virada. ‘Eles gravaram as duas primeiras músicas e quando ouvi pensei que tinha que ter gravado junto’.

Depois de um primeiro show sem muito sucesso, Rodrigo recebeu um segundo convite e aceitou na hora. ‘O começo foi de garagem, fazendo o que dá, mas sem muita pretensão’, relembra o músico, que, assim com os outros integrantes, tinha experiência como músico freelancer. ‘Músico de interior, para sobreviver, tem que tocar de tudo’.

Depois do começo sem essa pretensão veio a segunda virada. ‘Vimos que a banda era para apostar quando recebemos uma resenha de fora do país. O pessoal do festival Afropunk fez essa resenha de nossos primeiros singles. Depois tudo que fazíamos eles começaram a replicar. Até que em 2016 tocamos no festival deles em Paris. A gente nunca tinha saído nem de Uberaba’, relembra Rodrigo.

‘O Black Pantera começou no feeling’, conta. ‘Hoje eu vejo que a banda está no momento de mais maturidade. No processo de composição, todo mundo tem voz. O Charles chega com um riff, eu já imagino a bateria e todo mundo discute’, exemplifica o músico.

Para este terceiro álbum, o trio planejou até qual seria a ideia geral das letras. Se nos dois primeiros as mensagens de protesto contra injustiça social e o racismo eram presentes em todas as músicas, o próximo terá outra pegada. ‘Vem com algumas músicas que são apenas para extravasar’, antecipa.

‘O segundo (álbum) é só isso, violência, guerra, é bem forte. No terceiro a gente quis colocar música também para o pessoal bater cabeça, extravasar, curtir com o amigo. E no meio disso tudo a gente protesta e fala de política. Até isso foi pensado. Não é só para falar de desgraça’, fecha Rodrigo.

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