Emmily Barreto, do Far From Alaska (Reprodução)
Emmily Barreto, do Far From Alaska (Reprodução)
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Conservador não! O Rock apenas amadureceu

Há alguns dias li uma reportagem no UOL que começou me irritando já pelo título: ‘por que o rock se tornou clássico e com fama de conservador?’, era a chamada. Quem disse que o ‘rock se tornou clássico’ assim? Minha discordância foi ainda maior quando o texto cita Lobão e Roger Moreira como ‘referências’ dessa mudança.

Bem, eu cresci com o rock sendo o contestador. Isso desde infância e adolescência. Mas é isso, já bati nos 46 anos. E quando olho a audiência do Bem Rock, ela é majoritariamente acima dos 40 anos. Então realmente parece que estamos mais afastados dos adolescentes, do público mais jovem. O título da reportagem do UOL passa a fazer sentido, dependendo do ponto de vista.

Pode ser, e falemos sobre isso mais para frente. Antes, apenas um comentário: sim, há amigos que, da adolescência para a atual fase, deixaram o lado contestador de lado e tornaram-se bem conservadores. Mas isso não é regra: ainda acredito que seja possível manter uma rebeldia, mesmo acima dos 40. Mesmo tendo bons empregos, mesmo aproveitando um bom momento financeiro e por aí vai. Aquilo de que se você se rebela, tem seus ideais, quer mudança etc, então não pode ter seu iPhone, é uma baboseira gigantesca. E faço essa defesa em causa própria.

Voltando ao afastamento do público jovem, por que isso acontece? Adoraria ter uma resposta clara e indicar o caminho para reverter esta situação. Mas só gostaria de levantar alguma tese para a discussão. Começo invertendo a pergunta: será que uma grande parte do público jovem se tornou clássica e conservadora, se afastando do rock?

O tema já foi tratado em vários artigos por aí, mas com abertura política, subida ao poder de uma ‘social-democracia’ seguida por mais de uma década de governos de esquerda, ou do PT, regras familiares menos rígidas, mais liberdade sexual etc, a rebeldia do rock pode ter ficado sem sentido.

Para aqueles jovens que ainda querem confrontar o ‘poder’, começando com o que existe dentro de casa, o familiar, o que é mais rebelde para quem tem pais roqueiros na casa dos 40 ou 50 anos? Ouvir uma nova banda de rock denunciando as diferenças sociais do país ou funk com letras carregadas de sexo e danças sensuais? Diria que a segunda opção.

Bem, tenho pensado muito nisso. Gostaria de atingir mais pessoas a partir de 18 anos, pelo menos. E, para isso, conto com o bom rock’n’roll que ainda é feito por músicos jovens. Eles estão aí, conseguindo produzir e lançar singles, EPs e álbuns nas plataformas digitais. E nós vamos continuar tentando promover e levar essas músicas a todos, não importa a idade.

Tenho mais dúvidas, teses e questões sobre esse afastamento entre o rock e o público jovem, é verdade. Mas uma coisa ainda tenho certeza: o rock não é conservador e nem feito apenas para quarentões, como eu.

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