O veterano Dee Snider no clipe 'For the Love of Metal' (Youtube)
O veterano Dee Snider no clipe 'For the Love of Metal' (Youtube)
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O chefão do Spotify escorregou nas palavras

Essa é tema para muito papo e não apenas uma coluna. O CEO do Spotify escancarou a ideia da plataforma: é mais uma rede de engajamento com o público consumidor. E, para engajar mais, você precisa aparecer mais, postar mais. Mesmo que, neste caso, postar mais seja criar novas músicas o tempo todo.

Em entrevista ao site Music Ally, Daniel Ek comentou que a plataforma tem tido sucesso em sua missão de ajudar mais artistas a viver de suas próprias músicas. ‘Os artistas que conseguem isso hoje perceberam que é tudo sobre criar um engajamento contínuo com seus fãs. É publicar seu trabalho, é promover o álbum e manter um diálogo constante com os fãs’, afirmou.

O Spotify já vinha enfrentando uma série de críticas de vários artistas, reclamando que os royalties pagos pela plataforma não são o suficiente para viverem apenas de suas músicas. Ek, primeiro rebateu, dizendo que o maior impacto hoje é aquele causado pela covid-19. Mas, como quem ensina músicos e bandas a como fazer sucesso, soltou a pérola que enfureceu muita gente.

‘Alguns artistas que costumavam ir bem no passado, podem não ir tão bem no atual cenário, onde você não pode gravar música uma vez a cada três ou quatro anos e achar que é o suficiente’

Daniel Ek

No Twitter, logo surgiram várias críticas. Mike Mills, do R.E.M., postou: ‘Música = produto e precisa ser lançada regularmente, diz o bilionário Daniel Ek. Vá se foder’.

‘Quando esse cara lançar um álbum dele mesmo, eu vou ouvir ele falar sobre os meus álbuns’, foi a crítica de Sebastian Bach.

Dee Snider, ex-Twisted Sister, foi além. ‘Enquanto você (ouvinte) se beneficia e curte o Spotify, é parte do que está matando uma parte importante de receita para artistas e criadores. A quantidade de artistas ‘ricos o suficiente’ para resistir a essa perda é tipo 0.0001%. A solução do Daniel Ek para nós é escrever e gravar mais por nossa conta? Foda-se ele!’, protestou.

Caraca, que enrosco! Já deixo aqui registrado: não tenho experiência em toda essa cadeia produtiva. Mas bandas e músicos terem de partir para a briga contra quem domina a distribuição de sua própria arte não é novidade. Apenas mudou quem domina essa distribuição.

Como o próprio Mills publicou depois, apenas boicotar o Spotify não parece ser a melhor decisão para os músicos. A entrevista em que Daniel Ek morde a língua foi um dia após a plataforma divulgar seus resultados. No último trimestre Ek viu a empresa chegar a 299 milhões de usuários em todo o mundo, sendo 138 milhões de assinantes.

Apesar de todo o respeito por Dee Snider – o cara tem muita experiência, inclusive de ter quebrado, me parece um pouco equivocado jogar a culpa para os ombros de quem ouve suas músicas no Spotify ou outra plataforma digital. Sei lá, é quase como pedir para que o público dos anos 80 e 90 deixassem de comprar um disco porque a gravadora ficava com o controle sobre a arte de alguma banda.

Em outros tweets, ainda sobre a polêmica, o astro até incluiu os ouvintes no lado de quem perde com o atual modelo de negócio. ‘Atores são pagos ANTES que os filmes/shows são lançados, não depois que eles descobrem se foi um sucesso. Você paga por um carro QUANDO O COMPRA, não dirige por um tempo e vê se gosta ou não. O sistema está todo invertido’, continuou.

Mas é isso, a discussão é ótima. Pelo Bem Rock, no momento vamos de Spotify, fazendo uma seleção de artistas, sendo a principal ideia a divulgação do máximo de bandas possível, sem ficar preso apenas em nomes conhecidos. Quanto mais gente, mais banda, mais novos sons, melhor para todos! Mas, estamos atentos.

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